













O que é a justiça? E a injustiça? Uma Ideia de Justiça, de Joana Providência, com texto de Isabel Minhós Martins, é um espetáculo que traz estas perguntas literalmente para cima da mesa, uma mesa onde se tenta construir uma noção de justiça. À sua volta, há cadeiras especiais para sentar toda a gente: os que têm pernas compridas, os que não conseguem estar quietos, os que vêm sempre e os que não costumam ser convidados.
Sobre ela, vários adereços: por exemplo, uma travessa cheia de fruta. Quem tem mais fome? Quem ainda não comeu? Quem tem direito a esta fruta? Levantam-se interrogações parecidas quando são direitos, deveres ou liberdades o que está em cima da mesa. Ao abordar questões como a diversidade, a escolha, a igualdade e a liberdade, o espetáculo quer ser uma ferramenta de construção de justiça. E responder à interpelação de Sophia de Mello Breyner: “Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo.”
Um espetáculo dirigido aos 1º e 2º ciclos.
Na raiz de uma ideia de justiça
JOANA PROVIDÊNCIA
Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito de verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem. Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo.
Sophia de Mello Breyner – Arte Poética III
O desafio permanente lançado por Sophia de Mello Breyner é o tema deste espetáculo. A ideia de justiça e, naturalmente, a urgência de apontar a injustiça nas suas múltiplas faces, são o seu ponto de partida. Esta criação problematiza a justiça, que nos parece muitas vezes enganosamente imediata, enganosamente inevitável, enganosamente segura, até ao momento em que testemunhamos a presença da injustiça, e percebemos então que aquela carece de cuidados permanentes. “As leis são como teias de aranha que prendem os fracos e pequenos insetos, mas são rompidas pelos grandes e fortes”: a interpelação milenar de Anacársis ecoa no mundo contemporâneo com uma desconcertante pertinência. Durante o processo, fomos auscultar os meninos e as meninas do primeiro ciclo da Escola das Flores. Foi realmente enriquecedor ouvir as suas vozes reclamarem por pequenas injustiças cometidas no recreio, entre colegas, e mesmo na relação com os adultos, tanto em casa como na escola. Foi surpreendente perceber que, na maior parte das situações, mesmo os mais pequenos reconheciam de uma forma clara os momentos em que sentiram injustiça. Já quando os questionámos sobre os momentos em que sentiram que se fez justiça, ou em que tinham sido justos, tornou-se bastante mais difícil para estes meninos e meninas encontrar situações e momentos inequívocos sobre como concretizar uma ideia de justiça. Ainda no contacto com estas crianças, lançámos a proposta de imaginarem uma árvore da injustiça e, a partir daí, pensarem que palavras se encontravam na raiz e nas folhas dessa árvore. Todos aderiram de forma imediata e genuína, rapidamente a sala se encheu de dedos no ar, e rapidamente a árvore se cobriu de palavras como: mentir, machismo, inimigo, faltar ao compromisso, excluir, não ter liberdade de expressão, guerra, luta, tristeza, falta de respeito, não escutar. Em relação à árvore da justiça, as palavras lançadas foram: partilhar, igualdade, salvar o mundo, diversidade, liberdade, paz, harmonia, fazer o bem, amizade. Nesta complexa procura sobre o que é a injustiça e a justiça, o mais importante é colocarmo-nos no lugar do outro, ou dos outros, e nessa relação com o mundo somos levados a redimensionar a nossa noção de injustiça e, por consequência, de justiça. Uma Ideia de Justiça aborda questões tão relevantes como a diversidade, a escolha, a igualdade, a liberdade, sendo de destacar que a própria criação do espetáculo se revê como ferramenta de construção de justiça, ao integrar em cena a Língua Gestual Portuguesa, procurando uma maior e mais real proximidade a públicos diversos.
Direção Artística → Joana Providência
Texto → Isabel Minhós Martins
Interpretes cocriadores → Joana Mont’Alverne, Joana Petiz, Rina Marques
Música → Ana Bento e Bruno Pinto
Cenografia → Cristóvão Neto
Figurinos → Cátia Barros
Desenho de Luz → Tiago Silva
Apoio à Voz → Maria do Céu Ribeiro
Apoio ao Movimento → Daniela Cruz
Formação em Língua Gestual → Cristiana Ferreira
Ilustração → Carolina Gaessler
Fotografia de cena → Pedro Figueiredo
Direção de Produção → Glória Cheio
Produção executiva → Rosa Bessa
Coprodução → Teatro do Bolhão, Teatro Nacional de São João, Teatro Aveirense, A Oficina
Dur. Aprox. → 40 minutos
M/12