Dança no Museu é um projeto artístico multidisciplinar, com conceção geral de Joana Providência, que configura a articulação entre as artes visuais, a dança e o vídeo. O projeto propõe a criação de dois objetos artísticos em torno de obras de arte existentes em seis extensões do Museu da Cidade: uma performance-instalação e um vídeo-dança.

Em 2023 o ciclo estreou-se com criações a partir da pintura icónica de Aurélia de Souza, o seu autorretrato enquanto Santo António, que integra a exposição “METAMORFOSES – Imanência Vegetal, Mineral e Animal no espaço doméstico Romântico” e o autorretrato “ vermelho”. O projeto valoriza um conjunto de elementos da obra, enquanto objeto de criação coreográfica como o jogo de sombra e de luz que permite traçar os contornos que determinam a imagem final. O retrato como representação de representações: o pintor/modelo que se expõe e se oculta numa capa "improvável" de Santo António, o rosto como zona corporal privilegiada de comunicação e de expressão, e centro da arte do retrato, pois o rosto "tem todas as formas do mundo" (neste caso, apoiado na expressividade das mãos).

A questão da semelhança e dissemelhança procurada pela artista para a sua autorrepresentação, implicando-se relações entre sagrado e o profano, o masculino e o feminino, o introspetivo e interventivo e o forte clima de subjetivação, visível por todo um contexto escolhido para a autorrepresentação, a que não pode ser alheio o facto de o hábito franciscano ser habitualmente usado como roupa mortuária, assim uma representação entre a máscara mortuária e a fixação de uma imagem para a "eternidade".